domingo, 17 de fevereiro de 2008

Mia Couto com alunos

Mia Couto numa escola


“Um escritor é alguém que é capaz de converter as tristezas em alegrias. A razão porque sou uma pessoa feliz é porque sou capaz de converter o mundo numa história. Só é feliz quem conta histórias”, esta foi a mensagem que Mia Couto deixou aos alunos da Escola E.B. 2/3 Dr. Flávio Gonçalves.
Considerado como “uma bênção dos deuses” pelos professores da escola, este momento teve início com a declamação de pequenos versos de apresentação do escritor moçambicano que “com apenas três letrinhas, o seu nome nos enche o coração”. Em resposta às questões lançadas, Mia Couto revelou que o seu escritor preferido é Guimarães Rosa, que já está a escrever um novo livro e que busca inspiração na vida e nos outros. O escritor confessou, ainda, que a sua paixão é por fazer histórias e que a sua infância se reflecte em quase todas as suas obras. Quanto ao que pensa ser escrever
bem, Mia Couto referiu que “é saber transmitir aquilo que temos dentro de nós e por vezes temos que ‘entortar’ as palavras”. “Quem me ler, que desentorte as palavras. Quem está a ler é um segundo criador, tem que fazer das palavras suas e converter-se num escritor”, acrescentou.
“Tenho a sensação que a escrita é um espaço de solidão. Apesar de através dela chegarmos aos outros, o momento de escrita é um acto solitário”, referiu valter hugo mãe, que esteve também, esta manhã à conversa com os alunos da Escola E.B. 2/3 Dr. Flávio Gonçalves.
O escritor vencedor do Prémio José Saramago revelou que só teve plena consciência da influência de Saramago quando recebeu o prémio e confessou que aprecia muito o lado colectivo e universalidade dos homens presente na ideologia do escritor. A propósito do Dia de São Valentim que hoje se celebra, valter hugo mãe manifestou que “se pudesse ser um poema, seria uma poema de amor”. Mas não é só de amor que os poemas nos falam, “ansiedades, desejos, alegrias e tristezas” reflectem-se na poesia de valter hugo mãe que justificou o facto de escrever os seus textos sempre em minúsculas dizendo que “o texto sem maiúsculas acelera-se e a leitura de um livro meu é manifestamente acelerada”.
Mia Couto nasceu na Beira, Moçambique, em 1955 e, além de ser escritor, sua faceta mais conhecida, é professor e biólogo. A sua vasta obra, que vai desde o conto, à crónica e da qual fazem parte títulos como "Vozes Anoitecidas", "Terra Sonâmbula" e "Estórias Abensonhadas" foi galardoada, em 1999, com o Prémio Vergílio Ferreira. O escritor participa na 9ª mesa de debate do Correntes d’Escritas, no dia 16.

valter hugo mãe nasceu em Angola, Saurimo, em 1971. Passou a infância em Paços de Ferreira, vive em Vila do Conde desde 1981. Licenciado em Direito, pós-graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. Foi vencedor do Prémio José Saramago com o romance o remorso de baltazar serapião, Quidnovi, 2006. É ainda autor de diversos livros de poesia traduzidos/editados em países como Espanha, Brasil, República Checa, Tunísia, Israel, Alemanha, Suiça, França, Eslovénia, Estónia e Estados Unidos da América.
O escritor participou na 6ª mesa de debate do Correntes d’Escritas.

Correntes d'Escritas na Póvoa do Varzim

Correntes d'Escritas em marcha


Amadeu Baptista, José Emílio-Nelson, Ondjaki, Uberto Stabile Vicente Martín Martín e Vergílio Alberto Vieira andaram em torno da poesia, na segunda mesa do Correntes d´Escritas, que ocupou toda a manhã do encontro de escritores de expressão ibérica.
“A meu favor tenho a poesia”, dizia o tema, mas este “estar a favor” não é evidente e não foi também evidente para os autores presentes na mesa. Desde logo, o moderador, Vergílio Alberto Vieira, acrescentou mais uma questão: tem, ou não, o poeta a ver com a poesia, tem, ou não, o poeta a poesia a seu favor?

Amadeu Baptista, procurou, com “Bosque Cintilante”, da sua autoria, mostrar essa impossibilidade em destrinçar o poeta da poesia e da vida – uma trindade que só não será divina porque a poesia se imiscui em todos os aspectos da vida, se suja e redime no concreto da existência humana. E é dessa crua realidade existencial que se enche o “Bosque Cintilante” de Amadeu Baptista, onde o poeta procura a salvação pela poesia e na poesia.
Uberto Stabile remeteu também para a inexistente fronteira da poesia e da vida, lembrando que: “há precisamente dez anos, neste dia 14 de Fevereiro, estava eu a enterrar o meu pai, que nunca entendeu o meu gosto pela poesia e que teria preferido se eu tivesse sido médico ou advogado”. Mas, por fim, é já reconciliado com a escolha do filho e orgulhoso do que este tinha conseguido alcançar, que o pai de Stabile parte e ele recorda, então, que, na vida, sempre teve a seu favor a poesia, porque sobre ela construiu a essência da sua própria existência. Só que, como afirmou o autor, “a poesia é fundamentalmente perversa; ela é, ao mesmo tempo, fé e dúvida”, por isso, um dos textos da sua autoria, que partilhou com o público, tinha como título “Maldita Poesia”. Uberto Stabile falou da poesia que alimenta e se alimenta, da poesia que é transubstanciação.

Também para José Emílio-Nelson a poesia quase assume corpo e existência própria, ao ponto de se atrever a questioná-la directamente em “Interrogações a um Versículo”, texto onde tenta analisar o que subtrai, afinal, a poesia de nós (os poetas)”. E, apesar de achar que, contra ele tem a poesia, revela que permanece nesse “esforço utópico de a ter a meu favor”. É que a poesia, para alguns, não dispensa que o poeta, a horas certas, contemple Babilónia, como afirmou Vergílio Alberto Vieira numa das suas intervenções, enquanto moderador.
Vicente Martín Martín optou por, como afirmou, mostrar que tinha uma posição “mais popular sobre o assunto, porque, como uma mulher” – ironizou - dá-nos, por vezes, mais dissabores que prazer”. E afinal, acrescentou ainda, “sou eu que me sirvo da poesia e a prova disso é que estou aqui, a desfrutar de um evento como este”. Mas, ironias à parte, para Vicente Martín Martín, a existência da poesia assume uma quase necessidade biológica para a procura de uma identidade. “O escritor é um recriador do mundo e escrever serviu-me para conhecer um pouco mais sobre mim mesmo e para reconhecer o meu lugar no mundo”, concluiu. A poesia a seu favor, pois.
Vergílio Alberto Vieira escolheu Ondjaki para encerrar esta segunda mesa do Correntes d´Escritas e este conquistou a plateia com o seu excelente sentido de humor e uma imitação perfeita do seu congénere angolano, Manuel Rui, de quem citou vários excertos de “O Manequim e o Piano”.
Ondjaki construiu a sua intervenção em torno da língua falada e da sua presença na poesia, desse exercício de intimidade entre a oralidade e a escrita; da riqueza do português, falado e sentido de formas tão diversas e tão ricas na extensa realidade lusófona. Ondjaki lembrou que “a poesia está a favor das línguas de falar e escrever” e que “o poeta tem a seu favor todas as formas de reinvenção e o instinto trabalhado de um animal de busca. Ondjaki falou da poesia que se cola à pele, que é língua e sentir, sem dúvida a favor dos poetas, sem dúvida a favor dos que a lêem. E, apesar de ter começado com uma citação de Mia Couto, é difícil não recorrer a ela, em jeito de conclusão, porque ainda: “falta-nos descobrir o caminho humano para o futuro”.

Correntes d' Escritas não param!

Póvoa do Varzim continua
com Correntes d' Escritas


O humor, os risos e as gargalhadas marcaram a 3ª mesa de debate do Correntes d’Escritas.

“A Lenta Volúpia de Escrever” reuniu Almeida Faria, Francisco José Viegas, Ivo Machado, J.J. Armas Marcelo, José Manuel Saraiva e José Carlos de Vasconcelos (este último no papel de moderador) para mais de uma hora de conversas.

A paixão pela escrita marcou o discurso de J.J. Armas Marcelo, de tal forma que, para ele, falar sobre isso é difícil, pois nada há mais a acrescentar. E tendo como fio condutor para a sua intervenção as memórias dos convívios com outros escritores, Armas Marcelo relembrou episódios vividos por Enrique Vila-Matas, que apesar de manifestar a sua recusa em participar em encontros de escritores e o desejo de não receber mais prémios, continua a escrever, a participar em encontros (esteve nas Correntes d’Escritas de 2007) e a sua escrita ainda lhe vale muitos prémios. Recordou também Mário Vargas Llosa, que considera seu mestre, e para quem a escrita era algo de sagrado. Com ela, Llosa não praticava uma relação de adultério, que só acontecia de vez em quando, como disse Armas Marcelo, antes partilhava uma relação matrimonial.
José Manuel Saraiva optou por desconstruir o tema, dizendo que “a volúpia, para ser volúpia, tem que ser lenta, porque ela é sentimento de satisfação, uma festa dos sentidos”.
E sobre a escrita, disse ser “libertadora, não opressiva, é uma acto de amor, não dor, ou se for de dor, é de uma dor boa, nunca agreste”. A sua experiência no ramo do jornalismo levou-o ainda a comparar as duas escritas: se uma pede calma, a escrita jornalística já pede urgência. Nada, no entanto, que o impeça de se afirmar como um “escritor lento, inclusive na escrita jornalística, mesmo que nesta não haja volúpia, mas urgência, duas características, afinal, incompatíveis”.

Foi pela voz de Francisco José Viegas que chegou a discórdia. Começou logo por afirmar que a palavra volúpia o fazia lembrar, de imediato, o pecado, o prazer, a luxúria, logo, algo de proibido e que não poderia ser falado. E assim defendeu que não há volúpia na escrita mas sim no escritor, que se sente necessidade de se mostrar, de conversar. Dizendo que “nem sempre a lentidão é boa conselheira”, e também fazendo uso da sua experiência jornalística, Viegas afirmou nunca ter escrito devagar, pela simples razão de não ter tempo.

Mas logo de seguida Almeida Faria, fazendo valer o seu sangue alentejano, defendeu o tema da mesa. “Nasci no Alentejo e lá temos fama de lentos. Gosto da lentidão, tem as suas vantagens”, disse. O que não gosta, e acabou por confessar, é do processo de publicação e divulgação de livros, uma afirmação feita talvez para responder ao moderador José Carlos de Vasconcelos, que se queixou do “desaparecimento” do escritor, logo no início do debate.
Almeida Faria sublinhou, assim, que publica quando tiver vontade de o fazer.
Nesta 3ª mesa de debate participou ainda Ivo Machado, que abriu a sua intervenção com a leitura do poema “Iluminura” do livro Quilómetro Zero, lançado ontem.

O Correntes d’Escritas continua até 16 de Fevereiro com mais mesas de debate, lançamento de livros, entre muitas outras actividades.




Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
4490-438 Póvoa de

“O Escaravelho Contador”

“O Escaravelho Contador” é o trabalho dramático para o público infantil que a Companhia de Teatro de Braga apresenta no Theatro Circo dia 17 às 16h00 e dias 18, 19 e 20 às 11h00 e 15h00.

Encenado por José Caldas, “O Escaravelho Contador” surge a partir da obra “História que me contaste tu”, do jornalista e escritor português Manuel António Pina, que se consubstancia num conjunto de contos extraídos do mundo da fantasia que, entre si, têm o escaravelho a desempenhar o papel de elo de ligação. Habilmente convertido de insecto repugnante em anfitrião cómico e simpático, o escaravelho passa, nesta reescrita cénica de José Caldas, por um processo de multiplicação que coloca em palco cinco escaravelhos que interagem entre si e com os outros personagens da peça, expondo, desta forma as suas várias dimensões.

Em palco, Solange Sá, Teresa Chaves, Carlos Feio, Rogério Boane, Jaime Soares e Alexandre Sá dão vida às histórias que, «como uma caixa dentro de uma caixa, dentro de uma caixa» foram contadas ao escritor pelo escaravelho. Embora esteja classificada para uma faixa etária de maiores de 4 anos e resulte da adaptação de um livro de contos infantis, José Caldas, oriundo de uma realidade cultural em que os espectáculos de teatro não eram tipificados para um público específico (teatro de rua brasileiro), considera que “O Escaravelho Contador” não é apenas destinado a crianças.

Os ingressos, a 10 euros para o público em geral e a 5 euros para estudantes e pessoas com mais de 65 anos, podem ser adquiridos nas bilheteiras do Theatro Circo.